Havia entre esses ocupados, ou que pretendiam sê-lo, um bando de sombrios fanáticos, meio absurdos, meio velhacos, cujo simples aspecto contristava a terra, e que a teriam abalado, se pudessem, para conseguir um pouco de consideração. Mas a nação dos ociosos, dançando e cantando, fazia-os entrar nas suas cavernas, como os pássaros obrigam as corujas a voltar para o esconderijo das ruínas.
Outros ocupados, em menor número, eram zeladores de antigas usanças bárbaras contra as quais bradava a natureza; não consultavam senão os seus registros roídos de traças. Se ali encontravam algum costume Insensato e horrível, consideravam-no como uma lei sagrada. Devido a esse covarde hábito de não ousarem pensar por si mesmos, e de haurirem suas ideias nos destroços dos tempos em que não se pensava, é que, na cidade dos prazeres, ainda existiam costumes atrozes. É por esse motivo que não havia nenhuma proporção entre os delitos e as penas. Faziam às vezes um inocente sofrer mil mortes para obrigá-lo a confessar um crime que não havia cometido. Puniam uma leviandade de rapaz como teriam punido um envenenamento os um parricídio. Os ociosos lançavam gritos lancinantes e no dia seguinte não pensavam mais no caso e só falavam em novas modas.
Esse povo vira escoar um século inteiro durante o qual as belas-artes se elevaram a um grau de perfeição que jamais se ousaria esperar; os estrangeiros vinham então, como a Babilônia, admirar os grandes monumentos de arquitetura, os prodígios dos jardins, os sublimes esforços da escultura e da pintura. Encantavam-se com uma música que ia direito à alma sem espantar os ouvidos.
A verdadeira poesia, isto é, aquela que é natural e harmoniosa, aquela que tanto fala ao coração como ao espírito, só a conheceu a nação naquele venturoso século.