O Bobo - Cap. 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais Pág. 129 / 191

– Alevantarei eu o teu guante, cavaleiro Egas Moniz! – exclamou Garcia Bermudes adiantando-se. – A lança e a espada do nobre conde de Portugal e Coimbra não devem cruzar-se com as tuas. Senhor conde, uma estacada, e nomeai os juízes do campo.

A raiva sufocava e tolhia a fala ao conde de Trava, cujos olhos banhados de fel pareciam não lhe caberem nas órbitas: estendeu  apenas a mão trémula e contraída fazendo sinal que recusava. O seu terrível silêncio durou por alguns instantes. Quem se atreveria a quebrá-lo?

Finalmente aquela espécie de espasmo terminou por uma risada medonha. Uma escuma ensanguentada borbulhava-lhe dos cantos da boca, e pendurava-se-lhe em glóbulos cor-de-rosa na barba negra e revolta.

– Uma estacada, alferes-mor? – rugiu ele empurrando para trás com violência Garcia Bermudes. – Estacada e juízes? Uma das ameias da torre alvarrã será a estacada: o algoz, o reptador e o juiz. O cepo e o cutelo são para ricos-homens: este sandeu, enforquem- no como um cão ismaelita! Homens de armas, lançai-mo na prisão do alcaide no fundo da cárcova!

Egas olhara em roda. Estava só: os seis almogaures haviam sido retidos no pátio exterior. Ainda tentou defender-se; mas, oprimido pelo número e desarmado em breve, arrastaram-no para fora da sala. A imagem de Dulce lhe apareceu então serena e pura: um gemido de desesperação lhe fugiu do peito. Este gemido de desalento era o derradeiro adeus que lhe enviava. Entre ele e a sua amante a morte e a ignomínia se tinham naquele momento assentado.





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