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Capítulo 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais

Página 138

Às primeiras palavras do conde, Dulce caíra fulminada. Mas as derradeiras a revocaram à vida com a imagem de uma terribilíssima realidade, como o réu, desfalecido no primeiro trato, se reanima crescendo a intensidade dos tormentos. De joelhos, com as mãos erguidas, os dentes batiam-lhe com força, e não podia dizer nada. Mas o terror da sua alma melhor o exprimia o gesto, que outra qualquer expressão.

– É a vida do teu querido jogral que me pedes! Não é assim? – disse o conde. – Pedes ao leão esfaimado do deserto que não devore a zebra que tem nas garras! Afrontou-me, e eu pago a afronta; reptou-me, e eu aceitei o repto. Morrerá morte infame de peão criminoso!... – E depois de uma breve pausa, em que Dulce o abraçava pelos joelhos, prosseguiu: – Nobre neta dos Bravais, não desonres o sangue de teus avós, arrastando-te aos pés do desprezível estrangeiro! Por quem sois, nobre dama, alevantai-vos.

– Não peço piedade para ele – murmurou Dulce. – Bem sei que fora inútil esperá-la. Peço a morte para mim antes de ele morrer.

– De que me serviria a tua morte? – replicou o conde depois de cravar alguns momentos os olhos naquela fronte pálida, onde se pintavam todos os extremos do íntimo padecer. – Quero que vivas para chorares o galante jogral, e para com as tuas lágrimas servires de pranteadeira à mui ilustre rainha, à tua mãe adoptiva, que, espero em meus bons cavaleiros, há-de amanhã ficar órfã de seu filho.

– Oh, senhor, lembrai-vos de que há um céu, e que no céu há justiça! Que mal vos fiz eu? Matai-me, matai-me!

– Sei que há céu e que há justiça; por isso a faço na Terra. Sei mais: sei que o céu é clemente. Quero sê-lo também. Egas ainda talvez pode evitar seu fado: o leão ainda pode largar a presa.

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pág. 138 (Capítulo 13)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 138

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173