– Deitar-me-ei aos pés da minha boa rainha – acudiu Dulce – para que perdoe ao pobre Abul-Hassan...
– É verdade... a Abul-Hassan – interrompeu de novo o conde com alguma hesitação como quem começa a achar o fio de um labirinto intrincado. – A esse ainda será fácil... Falou-me nele o bom Egas... Mas cavaleiros que devem preito e menagem a D. Teresa!... Gonçalo Mendes que o seguiu ao arraial de meu senhor o infante... Enfim tu sabes o resto: bem vês que em tais casos, apesar de uma reconciliação completa...
– Não sei mais nada. Desde que Egas partiu ignoro tudo... jurovos que o ignoro. Mas que importa? A rainha...
– Demónio! – bradou o conde mudando repentinamente de tom e de gesto. – Que não possa achar a urdidura desta negra teia! Não sabes mais nada, mulher? Pois eu sei de ti o que desejava! Miserável, que apenas os olhos da águia se cravaram nos teus, sem rubor lhe patenteaste a tua infâmia! Insensata! Creste que eu podia ter paz com rebeldes, e ouvir pacientemente as amorosas endechas de um jogral da vil e detestável raça dos Gastos de Riba de Douro? Em tudo o que te disse há uma verdade só! Egas está em Guimarães: está em meu poder, e eu já lhe preparei o seu leito de noivado. Uma bem segura ameia da torre alvarrã, e uma boa corda de cânave de quatro ramais. Linda e inocente donzela, amanhã ao romper da alva podes ver o teu gentil trovador. Olha para lá daqui mesmo; aí o hás-de divisar dançando ao sopro rijo do vento. Quem canta deve saber bailar.