Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: XV - Conclusão

Página 159

Depois de várias orações, durante as quais muitos burgueses tinham sucessivamente entrado na igreja, seguia-se uma em que era necessário proferir o nome do príncipe para quem se invocava a protecção divina. Ousadamente o bom do abade garganteou:

– Oh Deus, a cujos pés está o universo, e a quem obedece tudo sob o império do teu servidor fiel o príncipe D. Afonso!, concede-lhe tempos pacíficos, e piedoso afasta dele esta bárbara guerra, para que, regedor do teu povo, guiado por ti, Senhor, obtenha paz no meio das gentes.

Ao acabar esta oração um leve ruído de aplauso sussurrou pelas naves, mas logo morreu em atento silêncio. Fr. Hilarião continuou:

– Invocamos-te, Senhor, para que sejas propício às nossas preces, tu que és o rei dos reis, e o dominador dos que imperam. Volve olhos benignos para o nosso príncipe D. Afonso...

Ao repetir deste nome, proferido em voz mais alta, um brado de muitos brados retumbou pelas naves do antigo templo de D. Muma: o povo que o enchia escoou-se lentamente pelo escuro portal, e as aclamações ao infante, restrugindo no terreno contíguo, vieram reboar de novo pelas sacrossantas abóbadas.

Os homens de rua e os vilões, vendo o castelo e o mosteiro declararem-se pelo filho do conde Henrique – revoltar-se a torre de menagem e o ritual –, entenderam que o burgo, assentado aos pés dos dois símbolos da força e da inteligência, devia imitá-los. Dentro de poucos minutos pelas vielas da povoação corriam os peões armados de fundas, de bestas de ascumas, e fugiam para a campanha os besteiros do conde, que guardavam os valos e os cubelos da cerca exterior acompanhados de apupos dos burgueses, e de muitas pedradas e virotes disparados atrás deles. Então a ponte levadiça do castelo desceu, e alguns homens de armas saíram para o burgo. À sua frente vinha o Lidador, que se dirigia ao mosteiro, rodeado já da vilanagem, que o saudava e aclamava o infante, e que o senhor da Maia fazia afastar, para poder seguir avante, com boas contoadas de lança, segundo era direito e costume tratar peões em semelhantes autos. Dom Bibas montado em um ginete do conde de Trava e ataviado com as suas louçainhas de bufão seguia de perto o cavaleiro, rindo e fazendo visagens e momos, sem se esquecer de distribuir golpes de palheta à direita e à esquerda com toda a munificência de um truão real.

<< Página Anterior

pág. 159 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 159

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173