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Capítulo 15: XV - Conclusão

Página 163

Assim, pela primeira vez ele deixara de combater ao lado do infante, vendo-o cercado de inimigos. Como a luz do astro da noite se desvanece ao subir no oriente o Sol, do mesmo modo o ardente fogo da amizade amortece e se apaga quando se acende ou fulge o facho das duas mais ardentes paixões humanas: a vingança e o amor.

Depois de largo pelejar o braço de Garcia deixou de responder à sua vontade enérgica. A espada não lhe escapou, porque lha prendia ao braçal uma cadeia de ferro; mas a mão não podia apertá-la. O bom cavaleiro sentiu as asas da morte roçarem-lhe frias pela fronte e gelarem as bagas de suor que lha banhavam: vergaram-lhe os joelhos, e no lume baço dos olhos centelharam-lhe como duas fachas trémulas e rápidas de fogo vivo; vacilou e caiu: caiu para nunca mais se erguer. «Dulce!», foi o seu último murmúrio; o último som que ouviu, um rugido de tigre; a última luz que viu, o lampejar de um punhal, que lhe descia entre o camal e o saio. Não fez um movimento, um gesto de súplica; não esperou nem quis piedade. Não a queria vencido; não a teria vencedor; não podia esperá-la.

Ao arrancar o ferro fumegante do coração do aragonês, Egas sentiu os gritos de desalento e temor dos peões inimigos, que fugiam aterrados vendo o termo daquele duelo fatal, enquanto os vilões de Gontingem lhes despediam uma nuvem de setas e pedras, acompanhadas de injúrias e ameaças. Com um sorriso doloroso o trovador olhou largo tempo para o cadáver do seu rival. Depois chamando alguns besteiros lhes disse:

– Fazei umas andas de troncos de árvores, e transportai este cadáver ao Mosteiro de Guimarães. Lá deveis encontrar quando aí chegardes o abade Fr. Hilarião. Dizei-lhe que Egas Moniz o moço lhe pede uma tumba e uma sepultura honrada para tão nobre e valente cavaleiro. Dizei-lhe, também, que a minha promessa desta noite há-de cumprir-se, e que ainda hoje nos veremos!

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pág. 163 (Capítulo 15)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 163

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173