O Bobo - Cap. 15: XV - Conclusão Pág. 164 / 191

– Ver-nos-emos! ver-nos-emos! – repetiu ele em voz baixa enquanto os soldados começavam a executar o que lhes ordenara. – Após o cadáver do que dorme o último sono, o daquele que respira e parece viver: também eu terei o meu moimento!

E apesar de malferido e com o arnês despedaçado montou no cavalo que lhe ofereceu um almoçadém de peões, e partiu à rédea solta para onde entre nuvens de pó se viam ao longe fulgurar as espadas dos pelejadores.

Mas não era peleja. Era um encalço, uma carnificina de vencidos. A todas as novas aterradoras vindas de Guimarães acrescera a da morte de Garcia Bermudes, que os besteiros fugitivos tinham espalhado. O conde de Trava retirava-se combatendo ainda, socorrido por alguns cavaleiros mais esforçados, mas os comuns dos homens de armas fugiam desordenadamente. A sorte do alferes-mor quebrou enfim os brios até dos mais destemidos.

Quando se conheceu claramente para que lado se inclinava a vitória, D. Teresa esqueceu-se de que era mãe, esqueceu-se da altivez e dureza de Fernando Peres, para se lembrar só de que era amante e rainha, e de que mais de uma vez o som da sua voz tinha bastado a infundir ousadia invencível no ânimo dos seus guerreiros. Montou num palafrém e acompanhada unicamente de um pajem e de dois escudeiros desceu ao campo, deixando na tenda as suas damas e donzelas, que choravam e rezavam cheias de medo, e horrorizadas das cenas de extermínio que passavam na planície.

E as duas hostes, travadas, enredadas, envoltas no pó, rolavam como uma nuvem tempestuosa afastando-se para longe do outeiro, onde estava alevantado o pavilhão da bela infanta. O Sol inclinava-se para o ocidente e o poderio da filha de Afonso VI ia fenecendo como ia fenecendo o dia.





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