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Capítulo 16: Apêndice

Página 174

De feito, encostado a uma das duas torres, que ladeavam a porta principal do castelo e como que estreitavam entre si a ponte levadiça, via-se levantado uma espécie de vasto estrado construído da véspera, coberto de alfombras mouriscas, e sobre o qual se acabavam de colocar dois ricos escanos, espécie de assento destinado em actos públicos às pessoas de mais elevada jerarquia, e que se assemelhava muito na forma aos modernos sofás, salvo na menor elegância e comodidade do encosto. Para um e outro lado enfileiravam-se algumas dezenas de assentos rasos ou tamboretes cobertos de estofos roçagantes, que pareciam destinados a personagens de vulto, posto que inferiores àquelas que deviam ocupar os escanos. O que, porém, melhor denunciava a natureza festiva do espectáculo que se ia dar no agitado terreiro era ver os dois alcaides ou juízes municipais do burgo, que segundo as ideias de então, talvez mais sensatas que as nossas, acumulavam as funções judiciais e administrativas dos concelhos, azafamados a fazer juncar as imediações do estrado, a dirigir a feitura de uma espécie de arco triunfal de ramos de carvalho à entrada do castro, e a demarcar, por meio de postes cravados no chão e ligados entre si por grossas cordas de cânhamo tecidas numa espécie de engradamento, uma liça ou recinto vedado às multidões contíguo à barbacã, o qual, através de um passadiço lançado por cima desta, tinha comunicação com um postigo, como que escondido no ângulo reentrante de uma das torres que defendiam a entrada principal do castro, e se estendia ao longo da barbacã na forma de paralelogramo, em cujo topo ficava o grande estrado que aí haviam feito alevantar os juízes do burgo. Era à vilanagem que por direito consuetudinário, recordação do estado servil de que começava a sair o povo, incumbia executar gratuitamente esses trabalhos nas festas e recepções dos príncipes. Dirigiam-nos, debaixo da inspecção dos alcaides, os cavaleiros vilãos, espécie de aristocracia plebeia análoga aos curiais romanos; e com os fustes ou varas que traziam espertavam de quando em quando, de um modo demasiado expressivo, o zelo e actividade dos peões chamados a pôr por obra as concepções artísticas dos magistrados municipais.

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pág. 174 (Capítulo 16)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 174

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173