– Todos, todos! – repetiu, rangendo os dentes de cólera, o cavaleiro do bando vencido que parecia dominar inteiramente os seus companheiros. Nem sequer olharam, os descorteses, para os dignos magistrados que se interpunham entre eles e os seus contrários, e que começavam a provar-lhes a incongruência da sua pretensão.
O outro bando parecia hesitar.
– Covardes! – gritaram ao mesmo tempo dois dos cavaleiros portugueses vencidos na justa, que recobrados os brios tinham vindo unir-se aos seus companheiros.
Os provocados não puderam conter-se mais. De um pulo ficaram de pé, ao passo que dentre a multidão rompia o estrondo infernal das manifestações de entusiasmo popular.
Era um acórdão do supremo tribunal caindo de chofre a revogar a sentença de uma relação.
Os contendores precipitaram-se uns para os outros com as espadas em punho.
Os alvazis retiraram-se apressadamente do meio daqueles furiosos, ao som das risadas da plebe. Tinham a peito manter a dignidade e, sobretudo, a inviolabilidade, a integridade do poder municipal.
As funções judiciais eram na Idade Média frequentemente sujeitas a semelhantes eclipses.
Apesar de serem botas as espadas; apesar de estarem os pelejadores de um e de outro lado completamente arnesados, não era difícil pressagiar um desfecho sério à luta. A força muscular dos rudes homens de armas daquele tempo triplicada pela ira supria até certo ponto os fios do aço bem temperado; o elmo e o perponto não se cortavam, mas podiam abolar-se. Guerreiros havia que nos combates com os sarracenos preferiam a maça à espada.