O Bobo - Cap. 16: Apêndice Pág. 190 / 191

Os juízes do campo proclamaram vencedor o cavaleiro da cor verde. Era a cor da haste e do pendão da lança que o senhor da Maia tomara.

Escudeiros, burgueses, cavaleiros vilãos, peões, colonos servos, que apinhados rodeavam a liça, prorromperam em aplausos. Na verdade Gonçalo Mendes era o mais benquisto rico-homem de além-Douro, e, embora coberto de armas e calada a viseira, o povo tinha-o conhecido. Aquela vozeria tempestuosa não era, porém, tanto demonstração de afecto como manifestação de ódio. A multidão aplaudia menos a vitória do infanção português do que a humilhação dos nobres cavaleiros de Galiza.

O conde de Trava, com uma perna cruzada sobre a outra, o cotovelo firmado no joelho, e a barba sobre o punho cerrado, contemplava imóvel a agitação popular, e nos olhos irritados lia-se-lhe que alcançava bem a significação daquele entusiasmo frenético.

Segundo o costume, o vencedor nestes jogos guerreiros tinha de receber um prémio das mãos da principal personagem que assistia a eles. Com o sorriso benévolo, debaixo do qual escondia habitualmente, ou as intenções do seu ânimo astucioso, ou as paixões de temor, de ódio, ou de cólera, quando os acontecimentos lhe vinham excitar qualquer delas, D. Teresa alevantou-se do escano, e tomando uma copa ou taça de prata das mãos de um pajem, que lha apresentara sobre uma almofada de pano tiraz, a mais rica tela que então se conhecia, deu alguns passos para Gonçalo Mendes que, conduzido pela mão do mordomo da cúria, subia ao tablado.





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