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Capítulo 5: V - A madrugada

Página 39

Tinha consigo mil lanças entre cavaleiros de Galiza e de Aragão: A muitos ricos-homens de Portugal parecia conservarem-se fiéis, não a ele, mas a D. Teresa; e os borgonheses, companheiros do conde Henrique, educados nas ideias da absoluta lealdade, e investidos pela maior parte em tenências de terras e em alcaidarias de castelos, davam-lhe toda a certeza de que não abandonariam aquela de quem as tinham recebido.

Com estes elementos diversos ele podia ir em arrancada contra a hoste de D. Afonso, superior talvez em peonagem e besteiros, mas assaz inferior à sua em homens de armas. Se, porém, os barões portugueses que ainda se não haviam declarado contra a rainha a abandonassem, a vitória não seria tão fácil de obter: e posto que o conde tentasse minguar o valor e perícia dos cavaleiros de aquém- -Minho para se esforçar a si próprio, a lembrança de que um tal acontecimento seria possível era, entre todas as que o assaltavam, a mais importuna, e a que principalmente não o deixara repousar durante as curtas horas de uma noite de Junho, a qual para ele fora uma das mais longas da sua vida.

Assim, apenas a luz duvidosa da aurora raiava no oriente, já a ponte levadiça do Castelo de Guimarães descia à voz impaciente de Fernando Peres, montado no seu ginete andaluz. Os atalaias viram-no sumir entre a casaria do burgo, e daí a pouco tornar a aparecer além dos valos alevantados à roda da povoação. Acompanhava- o já outro cavaleiro, cujas feições a escassa luz da madrugada não deixava bem divisar, mas que alguns dos esculcas apostavam ser Garcia Bermudes, o íntimo amigo do conde; o único homem que sabia moderar o seu carácter violento e altivo e que parecia senhor de todos os segredos daquela alma dissimulada e ambiciosa. Fosse quem fosse o cavaleiro, o conde rodeou com ele os valos e, passando perto outra vez do castelo, os dois se embrenharam numa selva profunda, que se estendia a pouca distância deste para a parte do norte.

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pág. 39 (Capítulo 5)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 39

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173