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Capítulo 6: VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão

Página 48

Um resultado importante produzira, todavia, aquela assembleia: as máscaras haviam caído de todas as faces: todas as equações políticas estavam resolvidas. Cada rico-homem sabia em qual das hostes havia de hastear seu pendão, e cada simples cavaleiro a que pendão se havia de unir. A sorte de Portugal ficava escrita nas pontas das lanças e nas puas das maças de armas. A cúria ia traçar a derradeira sentença à luz do céu – no campo de batalha.

Como se fosse alheio aos acontecimentos daquele dia, o dissimulado e manhoso Fernando Peres saíra da cúria dos barões com o sorriso nos lábios e a raiva no coração. Ficara sabendo que o poder da rainha, ou antes o seu, quase exclusivamente se estribava no braço dos cavaleiros estranhos, e que a fidalguia dos dois condados de Portugal e Coimbra, que ainda não erguera o estandarte da revolta, não tardaria a seguir o exemplo dos que já se haviam declarado pelo infante. Atribuía à influência de Gonçalo Mendes da Maia este sucesso, e o seu ódio contra ele tinha subido de ponto. O Lidador foi, portanto, aquele a quem neste dia mostrou mais prazenteiro rosto.

Um banquete esplêndido havia de terminar a convocação da cúria ou cortes. Os graves cuidados, que durante a manhã tinham ocupado os cortesãos e ricos-homens vindos àquela assembleia, deviam dissipar-se no meio das delicadas iguarias e das taças de vinho escumante. Na mesma sala de armas, onde na véspera ressoara o tripudiar do sarau, ia restrugir naquela noite o folgar do banquete, mais ruidoso ainda, porque nesse dia havia chegado a Guimarães grande número de fidalgos de Galiza, que em Portugal tinham préstamos e alcaidarias da bela infanta, ou antes do conde de Trava. Os vastos aposentos do paço brilhavam com toda a pompa de um dia de festa na Idade Média. As calças de muitas cores, as plumas das toucas dos senhores, os ricos briais e cotas, onde já a armaria, que as guerras de ultramar começavam a converter em moda, estreara as suas divisas e bordaduras fantásticas, davam um aspecto de alegria àquele concurso, que debalde se buscaria nas reuniões modernas, monótonas e tristes em trajos como em quase tudo. Pelos eirados e miradouros, pelos adarves e torres do castelo, pelas frestas e balcões do palácio viam-se olhar, gesticular, correr, sumir- -se, aparecer de novo, centenares de cavaleiros.

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pág. 48 (Capítulo 6)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 48

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173