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Capítulo 1: I - Introdução

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A confusão vinha a ser tanto maior, por isso mesmo que faltava o nexo feudal. Eram tão ténues os laços entre o conde e o conde, o maiorino e o maiorino, o alcaide e o alcaide, o prestameiro e o prestameiro, o homem de mesnada e o homem de mesnada, e, depois, entre estas diversas categorias, que as parcialidades se compunham, dividiam ou transformavam sem custo, à mercê do primeiro ímpeto de paixão ou cálculo ambicioso. Deste estado tumultuário derivou a separação definitiva de Portugal, e a consolidação da autonomia portuguesa. Obra a princípio de ambição e orgulho, a desmembração dos dois condados do Porto e de Coimbra veio por milagres de prudência e de energia a constituir, não a nação mais forte, mas decerto a mais audaz da Europa nos fins do século XV. Dir-se-ia um povo predestinado. Quais seriam hoje de feito as relações do Oriente e do Novo Mundo com o Ocidente, se Portugal houvesse perecido no berço? Quem ousará afirmar que, sem Portugal, a civilização actual do género humano seria a mesma que é? O conde Henrique pouco sobreviveu ao sogro: cinco anos escassos; mas durante esses cinco anos todos aqueles actos seus cuja memória chegou até nós indicam o exclusivo intuito de alimentar o incêndio das discórdias civis que devoravam a Espanha cristã. Nas lutas de D. Urraca, dos parciais de Afonso Raimundes e do rei de Aragão, qual foi o partido do conde? Todos sucessivamente; porque nenhum era o seu. O seu consistia em constituir um estado independente nos territórios que governava. E no meio dos tumultos e guerras em que ardia o reino, ele teria visto coroadas de bom sucesso as suas diligências, se a morte não viesse atalhar-lhe os desígnios junto dos muros de Astorga. Mas a sua viúva, a bastarda de Afonso VI, era pela astúcia e ânimo viril digna consorte do ousado e empreendedor borgonhês. A leoa defendeu o antro onde não se ouvia já o rugido do seu fero senhor, com a mesma energia e esforço de que ele lhe dera repetidos exemplos. Durante quinze anos lutou por conservar intacta a independência da terra que lhe chamava rainha, e quando o filho lhe arrancou das mãos a herança paterna, só havia um ano que a altiva dona curvara a cerviz ante a fortuna de seu sobrinho Afonso Raimundes, o jovem imperador de Leão e Castela. Era tarde. Portugal não devia tornar a ser uma província leonesa.

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 5

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173