O Bobo - Cap. 6: VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão Pág. 54 / 191

– Que esse louco mancebo venha, e achará meus pendões tendidos no campo. Aí receberá o preço da sua ousadia insensata. Mas engana-se contando com os falsos que nos cercam. Conheço-os, e aos leais! Eu deceparei o colo da serpente... Gonçalo Mendes! Gonçalo Mendes! em hora aziaga vieste à corte, em hora aziaga te demoraste! Garcia Bermudes, a infanta de Portugal, a filha dos reis de Leão, acaba de escolher-te para seu alferes: a ti pertence o governo de todos os seus homens de armas. Ao acabar do banquete devem estar levantadas as pontes das barbacãs, estas guarnecidas de vigias, e em cada lanço uma rolda e sobrerrolda. A ninguém é permitido sair do recinto do burgo: nem a mim próprio. Alferes-mor de Portugal, são estes os mandados da rainha D. Teresa: vós fareis que sejam cumpridos à risca!

Ao proferir estas palavras, todas as paixões cruéis, tençoeiras, furiosas, que ferviam comprimidas no coração do conde, se lhe pintavam no demudado das faces, no trémulo dos lábios brancos, nas rugas profundas da fronte carregada. Depois de um momento de silêncio, saindo arrebatadamente do caramanchão, prosseguiu:

– Se tendes mais que dizer, dizei-o. No momento do perigo nunca hesitei. Tereis uma resolução pronta.

– Só que obedecerei pontualmente ao que ordena minha senhora e rainha – respondeu o novo alferes.





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