– Dom Bibas! – interrompeu o conde.
O bobo continuou:
– Deixando, com os vossos galegos brutais e com os vossos aragoneses estúpidos, os nobres paços de Guimarães àquele que os herdou de seu pai, o tio D. Henrique, antigo truão de minha corte...
– Dom Bibas! – atalhou de novo o conde, cuja cólera tinha chegado ao seu auge, sorrindo ferozmente – os que te enviaram para me dizeres o que eles guardam nos corações covardes esqueceram-se de vestir-te um saio de malha bem estofado!…
Neste momento abriu-se uma das portas dos aposentos da bela infanta, e o capelão Martim Eicha, acompanhado de dois donzéis de D. Teresa, dirigiu-se para o conde:
– Senhor de Trava – disse o reverendo cónego –, a rainha quer imediatamente falar-vos.
– Eu ia pedir isso mesmo – respondeu o conde. – Mas antes de partir quero mostrar a traidores, na punição de seu mensageiro, que também saberei puni-los. Donzéis, arrastai este miserável daqui, e entregai-o ao vílico do castelo, que o mande açoutar pelo mais robusto dos meus cavalariços, até que o sangue lhe brote das costas, como da língua vilíssima lhe brotam insolências alheias.
O pobre Dom Bibas tinha errado completamente o dilema, por não meter nele os tagantes ou tiras de couro cru com que se castigavam os homens de criação, e que ele nunca provara. Posto que já com voz trémula, tentou ainda uma bufonaria, e atirando ao chão aquele seu vulto de pipa pôs-se a gritar:
– Não, que eu não vou!
– Donzéis, obedecei! – bradou o conde, encaminhando-se para os aposentos da infanta.
Dom Bibas desenganou-se então de que o caso era sério. Dando largas ao temor, arrastou-se após Fernando Peres, exclamando com todos os sinais de viva aflição:
– Piedade, senhor conde! Prometo…
O conde desaparecera.
– Levai-o, donzéis! – disse o novo alferes-mor.
– Também vós, Garcia Bermudes? Não! não! vós salvar-me-eis destes...