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Capítulo 8: VIII - Reconciliação

Página 75

Dulce deixou cair o punhal, e estendendo para o cavaleiro as mãos confrangidas e trémulas de aflição, interrompeu:

– A minha dita cifrava-se em tornar a ver-te; em ouvir ainda de tua boca palavras de ternura: estas converteram-se em injúrias e escárnio. Caluniaram-me, e tu acreditaste a calúnia... Não devias fazê-lo. Perdoo-te, mas escuta-me!

– Escuta-me tu ainda mais algumas palavras – replicou o mancebo – são as derradeiras que me ouvirás! Tu foste a única imagem que eu via enquanto combati, e padeci, e sofri além-mar: para ti sonhava eu sonhos de glória; por ti fiz ressoar as minhas endechas melancólicas debaixo dos cedros do Líbano, e com lágrimas de saudade refrigerei estes lábios queimados pelo sol ardente do deserto. O teu nome invoquei-o em mais de cem recontros, e ao invocá-lo aumentavam-se-me na alma o esforço e a constância. Tu eras a senhora dos meus pensamentos, a divindade do meu coração. Voltei a Portugal, onde esperava achar a recompensa de tanto amor. Qual foi ela? O meu futuro inteiro caiu-me hoje aos pés desfeito em cinza; porque este futuro estava nas mãos de Dulce, e Dulce, que eu cria anjo, era apenas mulher!

– Mata-me antes com esse ferro que jaz a teus pés – exclamou a donzela com voz débil e travada de choro –, mas não me faças expirar nos tormentos intoleráveis de coar pelo coração uma a uma as agonias que para ele manam das tuas palavras. Tem piedade de mim, Egas, e ouve-me!, que se me ouvires hás-de arrepender-te, e dizer: «Dulce, tu és tão inocente!... Os que te acusaram mentiram-me!». Oh! escuta-me por piedade!

E o tom daquelas expressões e a postura suplicante da formosa órfã abrandariam o instinto de um tigre: o cavaleiro vacilou.

– Houvera eu, desgraçada, de dizer-te essas palavras; houvera de achar no horizonte da minha vida uma beta de luz e esperança! Mas a boca de homem que nunca mentiu me confirmou sem o querer o que a fama confirmava. – E depois de olhar para ela fito alguns momentos, prosseguiu: – Não amas tu um desses aventureiros que oprimem a boa terra de Portugal? Não vais ser em breve esposa...

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 75

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173