Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: VIII - Reconciliação

Página 76

– Não acabes essa ideia terrível – atalhou Dulce com ânsia que tocava quase as metas do frenesi. – Esposa?! Só tua ou do túmulo. Nem o mundo, nem Deus teriam força para me constranger a tanto. As aparências enganam, Egas! Saberás a verdade: só a verdade, e sê tu o meu juiz.

O acento com que a donzela proferira estas palavras parecia tanto vir da alma, que a persuasão da infidelidade de Dulce, que tudo conspirara para arraigar no ânimo do cavaleiro, começava a trocar-se em hesitação porventura mais dolorosa que a certeza dessa infidelidade em que até aí estivera.

– Crês tu – replicou ele – que o peregrino expirando no meio das ânsias de sede devoradora recusasse a taça de água cristalina? que o supliciado, no meio dos tratos de algozes, não quisesse ouvir a palavra basta! da boca do juiz? que o condenado rejeitasse o céu pelo inferno?... Oxalá que os últimos oito dias que tenho passado, e que devoraram anos e anos de meu viver, não houvessem sido mais que um pesadelo maldito. Anjo que vi despenhado, pudesse eu adorar- te ainda como a um anjo de luz! Se neste mundo há para Egas futuro e para ti inocência, salva-me de mim mesmo.

Então Dulce apertando com um movimento convulso a mão do cavaleiro a encostou entre as suas ao peito, como se esperasse que no pular do coração ele pudesse conhecer que saía de lá pura e sincera a narração que lhe ia fazer.

Esta narração era a história do amor de Garcia Bermudes, amor a que ela respondera sempre com a dissimulação como o leitor já sabe. Dulce nem disfarçou a espécie de afeição inocente que consagrava ao aragonês, e que dera origem às suspeitas que tão de leve o ciúme de Egas acreditara, nem os desejos do conde e da infanta de a verem unida àquele nobre e esforçado cavaleiro. Não lhe esqueceram os acontecimentos do último sarau, e a repulsa positiva que se vira finalmente constrangida a dar. Conhecendo o carácter altivo e ao mesmo tempo generoso de Garcia, entendera dever-lhe explicar a causa daquela repulsa, e fiar dele os segredos mais íntimos do seu coração, dando-lhe assim uma prova de estima em lugar de amor.

<< Página Anterior

pág. 76 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 76

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173