O Bobo - Cap. 8: VIII - Reconciliação Pág. 77 / 191

«Era esta derradeira consolação – concluía Dulce – que eu acabava de dar àquele desventurado, quando tu vieste cego pelo ciúme despedaçar o coração da tua amante, que te sacrificava o homem que por certo amaria, se para ela houvesse neste mundo amor, pensamento, esperança, que não fosse Egas, que não fosse aquele que vai pedir-me perdão das suas suspeitas, que tão tristes me tornaram os instantes que deviam ser os mais deliciosos da minha vida.»

As mãos do cavaleiro apertavam já com amor as de Dulce; por isso, enquanto falara, no rosto da donzela as lágrimas se haviam desvanecido pouco a pouco no deslizar de um sorriso.

– Dulce, Dulce! – exclamou o cavaleiro. – Oh! repete-me que só amas o teu Egas! Jura-me que é verdade tudo isso!

– Farei mais – atalhou a donzela num êxtase de alegria. – Arranca-me destes paços se há para isso algum meio. Abandonarei aquela que me criou como filha querida, e seguir-te-ei a ti, que não podes abusar do meu amor, porque és um leal cavaleiro. Seguir-te-ei por toda a parte; no esplendor ou na miséria; na terra da infância ou nas solidões do desterro; na liberdade ou em ferros. Junto ao altar o nosso amor será santificado pela bênção de Deus, e eu serei tua, tua só, tua para sempre!

E Dulce caiu nos braços do guerreiro trovador, que desta vez a estreitou contra o peito, e lhe imprimiu na fronte um beijo ardente e puro como os pensamentos de ambos. Naquele instante os seus corações transbordavam de celeste e inefável ventura: não cabiam neles as grosseiras sensações terrenas.

– Tens razão! – disse o cavaleiro. – De cima me veio a inspiração de buscar-te antes de morrer, porque tu me restituis a vida. Sim, irás comigo. Amanhã ao cair das trevas eu serei aqui. Todos os meios de fuga estarão preparados, no arraial do infante, que não vem longe, acharemos brevemente abrigo, e aí seremos unidos pelo venerável arcebispo de Braga.





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