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Capítulo 9: IX - O desafio

Página 87

– Nenhum – respondeu o alferes-mor. – Os roldas e sobrerroldas giram nas quadrelas das barbacãs: vinte besteiros de pé, lançados entre estas e as barreiras e junto das pontes levadiças da cárcova, vigiam exteriormente: um troço de corredores almogaures corre no campo em volta do castelo e do burgo. Ardiloso e valente precisa de ser o que tentar evadir-se.

– Excelente! – replicou o conde sorrindo com a ideia de reter em lugar seguro uma parte dos seus inimigos. – Agora – prosseguiu ele – dize-me ainda: o nobre alferes-mor, que enquanto nós folgávamos nas delícias de um banquete velava por nós lá fora como leal cavaleiro, não viu luzir no céu, por entre as trevas da noite, a sua estrela feliz?

– A minha estrela é maldita – respondeu o cavaleiro com aspecto carregado. – Não há para mim luzir no céu a esperança! Felicidade? Não é no mundo que eu a hei-de encontrar!

– Quem sabe? – tornou o conde, em cujas faces passara fugitivo sorriso, e, voltando-se para Tructesindo, que se conservava a alguma distância com os olhos no chão, continuou: – Vem cá, meu gentil pajem, hoje será uma noite aziaga para traidores, porque será a da justiça, mas de justiça recta e imparcial: a recompensa corresponderá aos méritos. Repete o que de relance me disseste ao começar do banquete: busquemos achar o fio desta teia infernal.

Então o pajem narrou o que percebera da conversação entre Gonçalo Mendes, o homem do zorame e o abade do Mosteiro de D. Muma. A sua narração era incompleta, mas ouvira o nome de Egas Moniz, e que este viera do campo do infante. Quem duvidaria já de que existisse uma vasta conjuração dentro do próprio recinto de Guimarães? Que outros motivos trariam ali um dos mais ilustres cavaleiros da linhagem do implacável e manhoso aio de Afonso Henriques? Estas reflexões ocorriam de tropel ao conde escutando a narração do seu pajem.

Quando este chegou a proferir o nome de Egas, um grito fugiu dos lábios do alferes-mor. Fernando Peres alçando os olhos encontrou os dele, que pareciam faiscar. Era a cólera, o ciúme, a sede da vingança? Era talvez tudo. O conde interpretou este grito e este olhar pelos próprios pensamentos.

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 87

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173