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Capítulo 9: IX - O desafio

Página 88

– Tens razão, Garcia – disse ele. – Indignas-te de ver que homens, cheios de benefícios e honras pela rainha de Portugal, venham nos seus paços dela urdir o trama dos seus pérfidos desígnios. Mas estão em meu poder, e nada há aí que os salve. Possa eu encontrar ainda em Guimarães o audaz cavaleiro que ousou entrar na caverna do tigre! O algoz e o cepo selarão com sangue a fiel amizade dos infames. Egas, não te esconderá teu disfarce! Gonçalo Mendes, não te valerá nem a espada nem o orgulho de rico-homem! Monge hipócrita, não te salvará tua mortalha de homem vivo. Roma o que pede é ouro, quando defende o seu rebanho de garnachas e cogulas, e a tua cabeça não a cedera eu agora a troco de mil áureos mouriscos.

Assim a profunda indignação, que o conde acreditara ler no gesto do alferes-mor, saía como uma torrente do seu próprio coração.

Depois reflectiu um momento, e reassumiu outra vez o seu aspecto habitual de serenidade. Não fora para vibrar vãs palavras de ameaça que se aproximara de Garcia Bermudes. Após breve pausa prosseguiu gravemente e em voz assaz alta para ser ouvido no outro extremo, onde ainda restava um pequeno grupo de cavaleiros:

– Senhor alferes-mor, esperai aqui as ordens da nossa mui excelente rainha, que tem de comunicar-vos importantes negócios. Eu voltarei a chamar-vos, quando assim lhe aprouver.

Proferidas estas palavras saiu da sala, e encaminhou-se para os aposentos interiores pela mesma porta por onde a rainha saíra.

Apenas Fernando Peres desapareceu, Garcia Bermudes travou do braço de Tructesindo, e em tom solene disse-lhe:

– Pela minha fé juro que o pajem Tructesindo amanhã cingirá sobre o brial a espada de cavaleiro se cumprir o que lhe vou dizer, e se jurar também guardar sobre isso perpétuo silêncio.

– Juro, juro! – interrompeu o donzel. – Dizei depressa o que pretendeis. Seja o que for, e venham as esporas douradas.

Era a ideia fixa do diabólico pajem.

 

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 88

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173