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Capítulo 2: II - Dom Bibas

Página 9

Entre estes uma civilização mais adiantada tinha moderado o fanatismo, quebrado os brios selvagens, diminuído a robustez física dos homens de armas: a sua mestria, porém, da arte da guerra supria estas faltas e equilibrava nos combates o soldado muslim com o guerreiro cristão, mais robusto, mais fanático e por isso mais impetuoso do que ele. Era principalmente nos assédios, quer defendendo- se, quer acometendo, que os Árabes conheciam todo o preço da própria superioridade intelectual. As suas máquinas de guerra, mais perfeitas que as dos nazarenos, não só pela melhor combinação das forças mecânicas, como pela maior variedade de engenhos e invenções, davam-lhes notáveis vantagens sobre a grosseira táctica dos seus adversários. Sem o socorro da vínea, os Árabes sabiam incendiar de longe os castelos com os escorpiões arrojados pelas manganelas de fogo. De enxofre, salitre e nafta compunham eles um misto terrível, com que despediam dos engenhos globos de ferro cheios do mesmo composto, que, serpeando e sussurrando nos ares, iam estourar e verter dentro dos muros assediados uma espécie de lava inextinguível e infernal, contra cuja violência eram baldadas quase sempre todas as prevenções, e não menos baldadas a valentia e a força dos mais duros cavaleiros e homens de armas. Mas o Castelo de Guimarães podia, do teso sobre que estava assentado, olhar com tranquilo desdém para os formidáveis e variados engenhos militares de cristãos e sarracenos. A melhor fortaleza da Galiza, o Castro Honesto, que o mui poderoso e venerando senhor Diogo Gelmires, primeiro arcebispo de Compostela, reformara de novo, com todo o esmero de quem sabia ser aquele castro como a chave da extensa honra e senhorio compostelano, era, por trinta léguas em roda, o único, talvez, que ousaria disputar primazias com o de Guimarães. Como a daquele, a cárcova deste era larga e profunda: as suas barreiras eram amplas e defendidas por boas barbacãs, e as suas muralhas, torreadas com curtos intervalos, altas, ameadas e desmarcadamente grossas, do que dava testemunho o espaçoso dos adarves que corriam por cima delas.

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 9

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173