Como nos gelos do Norte
O sono traidor da morte
Engana o desfalecido
Que imagina adormecer,
Assim cansado, esvaído
De tão longo padecer,
Já não há no coração
Da mãe força de sentir;
Não tem já lume a razão
Senão só para a iludir.
Acorda, ó mãe desgraçada,
Que é tempo de despertar!
Anda ver a eça armada,
As luzes que ardem no altar.
Ouves? É a rouca toada
Dos padres a salmear!...
Vamos, que a hora é chegada,
É tempo de o amortalhar.
E os anjos cantavam:
- Aleluia!
E os santos clamavam:
- Hossana!
Ao triste cantar da Terra
Responde o cantar do Céu;
Todos lhe bradam: - Morreu!
E a todos o ouvido cerra.
E os sinos a tocar,
E os padres a rezar,
E ela ainda a acalentar
Nos braços o filho morto,
Que já não tem mais conforto,
Mais sossego neste mundo
Que o jazigo húmido e fundo
Onde há-de ir a sepultar.