Viagens na minha terra - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 4 / 41

— «Dou-lho eu, senhor...», acode cortesmente outra figura mui diversa, cujas feições, trajo e modos singularmente contrastam com os do moçárabe ribatejano. Acenderam-se os charutos, e atentámos mais devagar na companhia em que estávamos.

Era com efeito notável e interessante o grupo a que tínhamos chegado, e destacava pitorescamente do resto dos passageiros, mistura híbrida de trajos e feições descaracterizadas e vulgares — que abunda nos arredores de uma grande cidade marítima e comercial. — Não assim este grupo mais separado com que fomos topar. Constava ele de uns doze homens; cinco eram desses famosos atletas da Alhandra que vão todos os domingos colher o pulverem olympicum da praça de Sant’Ana, e que, à voz soberana e irresistível de: à unha, à cernelha!... correm a arcar com mais generosos, não mais possantes, animais que eles, ao som das imensas palmas, e a troco dos raros pintos por que se manifesta o sempre clamoroso e sempre vazio entusiasmo das multidões. Voltavam à sua terra os meus cinco lutadores ainda em trajo de praça, ainda esmurrados e cheios de glória da contenda da véspera. Mas ao pé destes cinco e de altercação com eles — já direi porquê — estavam seis ou sete homens que em tudo pareciam os seus antípodas.

Em vez do calção amarelo e da jaqueta de ramagem que caracterizam o homem do forcado, estes vestiam o amplo saiote grego dos varinos, e o tabardo arrequifado siciliano de pano de varas. O campino, assim como o saloio têm o cunho da raça africana; estes são da família pelasga: feições regulares e móveis, a forma ágil.

Ora os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul: a questão fora interrompida com a nossa chegada à proa do barco. Mas um dos Ílhavos — bela e poética figura de homem — , voltando-se para nós, disse naquele seu tom acentuado: «Pois aqui está quem há-de decidir: vejam nos senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim. Mas nós...»

— «Nenhum de nós é de Lisboa: só este senhor que aqui vem agora.» Era o C. da T. que chegava.

— «Este conheço eu; este é dos nossos!» bradou um homem de forcado, assim que o viu: «Isto é um fidalgo como se quer. Nunca o





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