– Porque a encarreguei de me avisar de tudo, e ela nada me tem contado.
– Se não tinha que lhe dizer, senhor!
– Não me conte histórias, prima! A criada quero vê-la sair do convento e já!
– Eu não lhe posso fazer a vontade, porque não faço injustiças. Se vossa senhoria quiser que sua filha tenha outra criada, mande--lha; mas a que ela tem, logo que deixe de a servir, há muitas senhoras nesta casa que a desejam, e ela mesma deseja aqui ficar.
– Tenho entendido – bradou ele – querem-me matar! Pois não matam; primeiro há-de o Diabo dar um estoiro!
Tadeu de Albuquerque saiu em corcovos do átrio do mosteiro. Era hedionda aquela raiva que lhe contraía as faces encorreadas, revendo suor e sangue aos olhos acovados.
Apresentou-se ao intendente da polícia, pedindo providências para que se lhe entregasse sua filha. O intendente respondeu que ele não solicitava competentemente tais providências. Instou para que o carcereiro da cadeia não deixasse sair alguma carta de um assassino, vindo da comarca de Viseu, por nome Simão Botelho. O intendente disse que não podia, sem motivos concernentes a devassas, obstar a que o preso escrevesse a quem quer que fosse.
Reduplicada a fúria, foi dali ao corregedor do Porto, com os mesmos requerimentos, em tom arrogante. O corregedor, particular amigo de Domingos Botelho, despediu com enfado o importuno, dizendo-lhe que a velhice sem juízo era causa tão de riso como de lástima. Esteve então a pique de perder-se a cabeça de Tadeu de Albuquerque. Andava e desandava as ruas do Porto, sem atinar com uma saída digna da sua prosápia e vingança. No dia seguinte, bateu à porta de alguns desembargadores e achava-os mais inclinados à clemência que à justiça a respeito de Simão Botelho. Um deles, amigo de infância de D. Rita Preciosa, e implorado por ela, falou assim ao sanhudo fidalgo:
– Em pouco está o ser homicida, senhor Albuquerque. Quantas mortes teria vossa senhoria hoje feito se alguns adversários se opusessem à sua cólera? Esse infeliz moço, contra quem o senhor solicita desvairadas violências, conserva a honra na altura da sua imensa desgraça.