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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 108
Nunca os meus pensamentos foram denegridos por um desejo, que eu não possa confessar alto diante de todo o mundo. Diz tu, Teresa, se os meus lábios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a Deus quando quis eu fazer do meu amor o teu opróbrio.

Nunca, Teresa! Nunca, ó mundo que me condenas!

Se teu pai quisesse que eu me arrastasse a seus pés para te merecer, beijar-lhos-ia. Se tu me mandasses morrer para te não privar de ser feliz com outro homem, morreria, Teresa!

Mas tu eras sozinha e infeliz, e eu cuidei que o teu algoz não devia sobreviver-te. Eis-me aqui homicida e sem remorsos. A insânia do crime aturde a consciência; não a minha, que se não temia das escadas da forca, nos dias em que o meu despertar era sempre

o estrebuchamento da sufocação. Eu esperava a cada hora o chamamento para o oratório, e dizia comigo: falarei a Jesus Cristo.

Sem pavor premeditava nas setenta horas dessa agonia moral, e antevia consolações que o crime não ousa esperar sem injúria da justiça de Deus.

Mas chorava por ti, Teresa! O travor do meu cálix tinha sobre a sua amargura as mil amarguras das tuas lágrimas.

Gemias aos meus ouvidos, mártir! Ver-me-ias sacudido nas convulsões da morte, em teus delírios. A mesma morte tem o horror da suprema desgraça. Tarde morrerias. A minha imagem, em vez de te acenar com a sua palma de martírio, te seria um fantasma levantado das tábuas dum cadafalso.

Que morte a tua, ó minha santa amiga!» E prosseguiu até ao momento em que João da Cruz, com ordem do intendente-geral da polícia, entrou no quarto.

– Aqui! – exclamou Simão, abraçando-o. – E Mariana? Deixou-a sozinha?! Morta, talvez!

– Nem sozinha, nem morta, fidalgo! O diabo nem sempre está atrás da porta… Mariana voltou ao seu juízo.

– Fala a verdade, senhor João?

– Pudera mentir!… Aquilo foi coisa de bruxaria, enquanto a mim… Sangrias, sedenhos, água fria na cabeça, e exorcismos do missionário, não lhe digo nada, a rapariga está escorreita, e, assim que tiver um tudo-nada de forças, bota-se ao caminho.

– Bendito seja Deus! – exclamou Simão.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 108

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139