Pois o médico não morreu, nem sequer desmedrou ou levou R significativo de preocupação do ânimo, insensível às amenidades da terapêutica.
A esposa, inquestionavelmente muito mais alquebrada e valetudinária que seu esposo, lavada em pranto, morta de saudades, sem futuro, sem esperanças, sem voz humana que a consolasse, entrou na liteira, e chegou ao Porto, onde procurou o corregedor do crime para entregar-lhe uma carta do doutor Domingos Botelho. Um período desta carta dizia assim:
«Deste-me notícia duma filha que eu não conhecia, nem reconheço. A mãe desta senhora está no Faial, para onde ela vai. Cuida tu, ou manda cuidar, no seu transporte para Lisboa, e encarrega ali alguém de correr com a passagem dela para os Açores no primeiro navio. A mim me darás contas das despesas. Meu filho Manuel teve ao menos a virtude de não matar ninguém para se constituir amante. Do modo como correm os tempos, muito virtuoso é o rapaz que não mata o marido da mulher que ama. Vê se consegues do general, que está aí, perdão para o rapaz que é desertor de cavalaria seis, e me consta que está escondido em casa de um parente. Enquanto a Simão, creio que não é possível salvá-lo do degredo temporário… É uma lança em África livrá-lo da forca. Em Lisboa movem-se grandes potências contra o desgraçado, e eu estou malvisto do intendente-geral por abandonar o lugar…, etc.»
Partiu para Lisboa a açoriana, e dali para a sua terra, e para o abrigo de sua mãe, que a julgara morta, e lhe deu anos de vida, se não ditosa, sossegada e desiludida de quimeras.
Manuel Botelho, obtido o perdão pela preponderância do corregedor do crime, mudou de regimento para Lisboa, e aí permaneceu até que, falecido seu pai, pediu a baixa e voltou à província.