Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: Capítulo 17

Página 117

– E beijo as mãos de vossa senhoria… Uma desgraçada como eu não podia esperar tanta caridade. Poucas horas depois, a esposa do médico…

– Que tinha morrido de paixão e vergonha, talvez! – exclama uma leitora sensível.

– Não, minha senhora; o estudante continuava nesse ano a frequentar a Universidade; e como tinha já vasta instrução em patologia, poupou-se à morte da vergonha, que é uma morte inventada pelo visconde de A. Garrett no Fr. Luís de Sousa, e à morte da paixão, que é outra morte inventada pelos namorados nas cartas despeitosas, e que não pega nos maridos a quem o século dotou de uns longes de filosofia, filosofia grega ou romana, porque bem sabem que os filósofos da antiguidade davam por mimo as mulheres aos seus amigos, quando os seus amigos por favor lhas não tiravam. E esta filosofia hoje então… Vou-lhes contar um lance memorando de um filósofo da actualidade, lance único pelo qual eu fiquei conhecendo a pessoa. Hoje (21 de Setembro de 1861) estava eu no escritório do ilustre advogado Joaquim Marcelino de Matos, e um cliente entrou, contando o seguinte: – «Senhor doutor, eu sou um lojista da rua de***; e fui roubado em oitocentos mil réis por minha mulher, que fugiu com um amante para Viana. Venho saber se posso querelar, e receber o meu dinheiro.» – Pode querelar, respondeu o advogado, se tiver testemunhas. O senhor quer querelar por adultério? – Responde o queixoso: «O que eu quero é o meu dinheiro.» – Mas, redarguiu o consultor, o senhor pode querelar de ambos, dela como adúltera, e dele como receptador do furto. – «E receberei o meu dinheiro?» – Conforme. Eu sei cá se ele tem o seu dinheiro?! O que sei é que não pode pronunciá-la a ela como ladra. – «Mas os meus oitocentos mil réis?!» – Ah! o senhor não se lhe dá que a sua mulher fuja e não volte? – «Não, senhor doutor, que a leve o diabo; o que eu quero é o meu dinheiro.» – Pois querele de ambos e veremos depois. – «Mas não é certo receber eu o meu dinheiro?!» – Certo não é; veremos se, depois de pronunciado, as autoridades administrativas capturam o ladrão com o seu dinheiro. – «E se ele o não tiver já?» – redarguiu o marido consternado. – Se o não tiver já, o senhor vinga-se na querela por adultério. – «E gasta-se alguma coisa?» – Gasta, sim; mas vinga-se. – «O que eu queria era o meu dinheiro, senhor doutor; a minha mulher deixá-la ir, que tem cinquenta anos.» – Cinquenta anos! – acudiu o doutor. – O senhor está vingado do amante. Vá para casa, deixe-se de querelas, que o mais desgraçado é ele.

<< Página Anterior

pág. 117 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 117

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139