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Capítulo 19: Capítulo 19

Página 124

– E suponha, Mariana, que eu morro apenas chegar ao degredo?

– Não falemos nisso, senhor Simão…

– Falemos, minha amiga, porque eu hei-de sentir à hora da morte, a pesar-me na alma, a responsabilidade do seu destino… Se eu morrer?

– Se o senhor morrer, eu saberei morrer também.

– Ninguém morre quando quer, Mariana…

– Oh! se morre!… e vive também quando quer… Não mo disse já a senhora D. Teresa?

– Que lhe disse ela?

– Que estava a passar quando vossa senhoria chegou ao Porto, e que a sua chegada lhe dera vida. Pois há muita gente assim, senhor Simão… E mais a fidalga é fraquinha, e eu sou mulher do campo, vezada a todos os trabalhos; e, se fosse preciso meter uma lanceta no braço e deixar correr o sangue até morrer, fazia-o como quem o diz.

– Oiça-me, Mariana: que espera de mim?

– Que hei-de eu esperar!… Porque me diz isso o senhor Simão?

– Os sacrifícios que Mariana tem feito e quer fazer por mim só podiam ter uma paga, embora mos não faça esperando recompensa. Abre-me o seu coração, Mariana?

– Que quer que eu lhe diga?

– Conhece a minha vida tão bem como eu, não é verdade?

– Conheço, e que tem isso?

– Sabe que eu estou ligado pela vida e pela morte àquela desgraçada senhora?

– E daí? Quem lhe diz menos disso?!

– Os sentimentos do coração só os posso agradecer com amizade.

– E eu já lhe pedi mais alguma coisa, senhor Simão?!

– Não me pediu, Mariana; mas obriga-me tanto, que me faz mais infeliz o peso da obrigação. Mariana não respondeu; chorou.

– E porque chora? – tornou Simão carinhosamente.

– Isso é ingratidão… e eu não mereço que me diga que o faço infeliz.

– Não me compreendeu… Sou infeliz por não poder fazê-la minha mulher. Eu queria que Mariana pudesse dizer: «Sacrifiquei--me por meu marido; no dia em que o vi ferido em casa de meu pai, velei as noites a seu lado; quando a desgraça o encerrou entre ferros, dei-lhe o pão que nem seus ricos pais lhe davam; quando o vi sentenciado à forca, endoideci; quando a luz da minha razão me tornou num raio de compaixão divina, corri ao segundo cárcere, alimentei-o, vesti-o, e adornei-lhe as paredes nuas do seu antro; quando o desterraram, acompanhei-o, fiz-me a pátria daquele pobre coração, trabalhei à luz do sol homicida para ele se resguardar do clima, do trabalho, e do desamparo, que o matariam…»

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pág. 124 (Capítulo 19)

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 124

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139