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Capítulo 19: Capítulo 19

Página 125

O espírito de Mariana não podia altear-se à expressão do preso; mas o coração adivinhava-lhe as ideias. E a pobre moça sorria e chorava a um tempo. Simão continuou:

– Tem vinte e seis anos, Mariana. Viva, que esta sua existência não pode ser senão um suplício oculto. Viva, que não deve dar tudo a quem lhe não pode restituir senão as lágrimas que eu lhe tenho custado. O tempo do meu desterro não pode estar longe; esperar outro melhor destino seria uma loucura. Se eu ficasse na pátria, livre ou preso, pediria a minha irmã que completasse a obra generosa da sua compaixão, esperando que eu lhe desse a última palavra da minha vida. Mas não vá comigo à África ou à Índia, que sei que voltará sozinha à pátria depois que eu fechar os olhos. Se o meu degredo for temporário, e a morte me guardar para maiores naufrágios, voltarei à pátria um dia. É preciso que Mariana aqui esteja para eu poder dizer que venho para a minha família, que tenho aqui uma alma extremosa que me espera. Se a encontrar com marido e filhos, a sua família será a minha. Se a vir livre e só, irei para companhia de minha irmã. Que me responde, Mariana?

A filha de João da Cruz, erguendo os olhos do pavimento, disse:

– Eu verei o que hei-de fazer quando o senhor Simão partir para o degredo…

– Pense desde já, Mariana.

– Não tenho que pensar… A minha tenção está feita…

– Fale, minha amiga; diga qual é a sua tenção. Mariana hesitou alguns segundos, e respondeu serenamente:

– Quando eu vir que não lhe sou precisa, acabo com a vida. Cuida que eu ponho muito em me matar? Não tenho pai, não tenho ninguém, a minha vida não faz falta a pessoa nenhuma. O senhor Simão pode viver sem mim? Paciência!… Eu é que não posso…

Susteve o complemento da ideia como quem se peja de uma ousadia. O preso apertou-a nos braços estremecidamente, e disse:

– Irá, irá comigo, minha irmã. Pense muito no infortúnio de nós ambos de ora em diante, que ele é comum; é um veneno que havemos de tragar unidos, e lá teremos uma sepultura de terra tão pesada como a da pátria.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 125

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139