Ao escurecer, voltou de terra o comandante, e contemplou, com os olhos embaciados de lágrimas, o desterrado, que contemplava as primeiras estrelas iminentes ao mirante.
– Procura-a no Céu? – disse o nauta.
– Se a procuro no Céu!… – repetiu maquinalmente Simão.
– Sim… No Céu deve ela estar.
– Quem, senhor?
– Teresa.
– Teresa!… Morreu?!
– Morreu, além, no mirante, donde ela estava acenando.
Simão curvou-se sobre a amurada, e fitou os olhos na torrente. O comandante lançou-lhe os braços e disse:
– Coragem, grande desgraçado, coragem! Os homens do mar também crêem em Deus! Espere que o Céu se abra para si pelas súplicas daquele anjo!
Mariana estava um passo atrás de Simão, e tinha as mãos erguidas.
– Acabou-se tudo!... – murmurou Simão – Eis-me livre… para a morte… Senhor comandante – continuou ele energicamente –, eu não me suicido. Pode deixar-me.
– Peço-lhe que se recolha à câmara. O seu beliche está ao pé do meu.
– É obrigatório recolher-me?
– Para vossa senhoria não há obrigações; há rogos: peço-lho, não mando.
– Vou, e agradeço a compaixão.
Mariana seguiu-o com aquele olhar quebrado e mavioso do Jau, quando o poeta desembarcava, segundo a ideia apaixonada do cantor de Camões.
Encarou nela Simão, e disse ao comandante:
– E esta infeliz?
– Que o siga… – respondeu o compassivo homem do mar, que cria em Deus.
Simão recolheu-se ao beliche, e o comandante sentou-se em frente dele, e Mariana ficou no escuro da câmara a chorar.
– Fale, senhor Simão! – disse o comandante – desafogue e chore.
– Chorei, senhor!
– Eu não tinha imaginado uma angústia igual à sua. A invenção humana não criou ainda um quadro tão atroz. Arrepiam-se-me os cabelos, e tenho visto espectáculos horríveis na terra e no mar.
Acintemente, o comandante estava provocando Simão ao desabafo. Não respondia o condenado. Ouvia os soluços de Mariana, e tinha os olhos postos no maço das cartas, que pusera sobre uma banqueta.