O capitão prosseguiu:
– Quando em Miragaia me contaram a morte daquela senhora, pedi a uma pessoa relacionada no convento que me levasse a ouvir de alguma freira a triste história. Uma religiosa ma contou; mas eram mais os gemidos que as palavras. Soube que ela, quando descíamos na altura do Oiro, proferia em alta voz: — «Simão, adeus até à eternidade!» E caiu nos braços duma criada. A criada gritou, outras foram ao mirante, e a trouxeram meio morta para baixo, ou morta, melhor direi, que nenhuma palavra mais lhe ouviram. Depois contaram-me o que ela penara em dois anos e nove meses naquele mosteiro; o amor que ela lhe tinha, e as mil mortes que ali padeceu, de cada vez que a esperança lhe morria. Que desgraçada menina, e que desgraçado moço o senhor é!
– Por pouco tempo… – disse Simão, como se o dissesse a si próprio, ou a própria imaginação estivesse dialogando consigo.
– Creio, creio, por pouco tempo – prosseguiu o capitão –, mas se os amigos pudessem salvá-lo, senhor, eu dar-lhos-ia na Índia mais fiéis que em Portugal. Prometo-lhe, sob minha palavra de honra, alcançar do vizo-rei a sua residência em Goa. Prometo segurar-lhe um decente princípio de vida, e as comodidades que fazem a existência tão saudável como ela é na Ásia. Não o intimide a ideia do degredo, senhor Simão. Viva, faça por vencer-se, e será feliz!
– O seu silêncio, por piedade, senhor… – atalhou o degredado.
– Bem sei que é cedo ainda para planizar futuros. Desculpe à simpatia que me inspira a indiscrição, mas aceite um amigo nesta hora atribulada.
– Aceito, e preciso dele… Mariana! – chamou Simão – Venha aqui, se este cavalheiro o permite.