Mariana entrou no quarto.
– Esta mulher tem sido a minha providência – disse Simão. – Porque ela me valeu, não senti a fome em dois anos e nove meses de cárcere. Tudo que tinha vendeu para me sustentar e vestir. Aqui vai comigo esta criatura. Seja respeitável aos seus olhos, senhor, porque ela é tão pura como a verdade o deve ser nos lábios dum moribundo. Se eu morrer, senhor comandante, aceite o legado de a amparar com a sua caridade como se ela fosse minha irmã. Se ela quiser voltar à sua pátria, seja o seu protector na passagem. – E, estendendo-lhe a mão, disse com transporte: – Promete-me isto, senhor?
– Juro-lho.
O comandante, obrigado a subir ao tombadilho, deixou Simão com Mariana.
– Estou tranquilo pelo seu futuro, minha amiga.
– Eu já o estava, senhor Simão – respondeu ela.
Não se trocaram palavras por largo espaço. Simão apoiou a face sobre a mesa, e apertou com as mãos as fontes arquejantes. Mariana, de pé, ao lado dele, fitava os olhos na luz mortiça da lâmpada oscilante, e cismava, como ele, na morte.
E o nordeste sibilava, como um gemido, nas gáveas da nau.