– E também sei que pôs a loja com dinheiro do Sr. Baltasar.
– Pois então que medo tens?
– Não há medo; mas também sei que foi o corregedor que o livrou da forca…
– Isso que tem! O corregedor não se importa com isto, nem sabe que o filho cá está…
– Assim será; mas não estou muito contente… Ele é homem dos diabos…
– Deixá-lo ser... tanto entram as balas nele como noutro… A discussão continuou sobre várias conjecturas. De tudo o que eles disseram uma coisa era certíssima: ser o vulto o João da Cruz, ferrador.
Teria ele dado trezentos passos, quando os criados de Baltasar ouviram o remoto tropel da cavalgadura. Ao tempo que eles saíam do seu esconderijo, saía João da Cruz à frente do cavaleiro. Simão aperrou as pistolas, e o arrieiro uma clavina. – Não há novidade – disse o ferrador –, mas saiba vossa senhoria que já podia estar em baixo do cavalo com quatro zagalotes no peito.
O arrieiro reconheceu o cunhado, e disse:
– És tu, João?
– Sou eu. Vim primeiro que tu.
Simão estendeu a mão ao ferrrador, e disse comovido:
– Dê cá a sua mão; quero sentir na minha a mão de um homem honrado.
– Nas ocasiões é que se conhecem os homens – redarguiu o ferrador. – Ora vamos… não há tempo para falatório. O senhor doutor tem uma espera.
– Tenho? – disse Simão.
– Atrás da igreja estão dois homens que eu não pude conhecer; mas não se me dava de jurar que são criados do Sr. Baltasar. Salte abaixo do cavalo, que há-de haver mostarda. Eu disse-lhe que não viesse; mas vossa senhoria veio, e agora é andar com a cara para a frente.
– Olhe que eu não tremo, mestre João – disse o filho do corregedor.
– Bem sei que não; mas, à vista do inimigo, veremos.
Simão tinha apeado. O ferrador tomou as rédeas do cavalo, recuou alguns passos na rua, e foi prendê-lo à argola da parede de uma estalagem.
Voltou, e disse a Simão que o seguisse a ele e ao cunhado na distância de vinte passos; e que, se os visse parar perto do quintal de Albuquerque, não passasse do ponto donde os visse.