– Quem para aqui vem, menina, há-de mortificar o espírito, e deixar lá fora as paixões mundanas. Ora pois! Aqui está a nossa madre mestra de noviças, a quem compete encaminhá-la e dirigi-la.
Teresa não redarguiu: fez um gesto de respeito à mestra de noviças, e seguiu o caminho que a prelada lhe ia indicando.
A nossa madre entrou nos seus aposentos, e disse a Teresa que era sua hóspede enquanto ali estivesse; e ajuntou que não sabia se seu pai escolheria aquele convento ou outro.
– Que importa que seja um ou outro? – disse Teresa.
– É conforme. Seu pai pode querer que a menina professe em ordem rica das bentas ou bernardas.
– Professe! – exclamou Teresa. – Eu não quero ser freira aqui, nem noutra parte.
– A senhora há-de ser o que seu pai quiser que seja.
– Freira!? A isto não pode ninguém obrigar-me! – recalcitrou Teresa.
– Isso assim é – retorquiu a prioresa –, mas, como a menina tem de noviciado um ano, sobra-lhe tempo para se habituar a esta vida, e verá que não há vida mais descansada para o corpo, nem mais saudável para a alma.
– Mas a nossa madre – tornou Teresa, sorrindo, como se a ironia lhe fosse habitual – já disse que a estas casas ninguém vem para se sentir bem…
– É um modo de falar, menina. Todos temos as nossas mortificações e obrigações de coro e de serviços para que nem sempre o espírito está bem-disposto. Ora vê aí. Mas em comparação do que lá vai pelo mundo, o convento é um paraíso. Aqui não há paixões, nem cuidados que tirem o sono, nem a vontade de comer, bendito seja o Senhor! Vivemos umas com as outras, como Deus com os anjos. O que uma quer, querem todas. Más-línguas é coisa que a menina não há-de achar aqui, nem intriguistas, nem murmurações de soalheiro.