A cama de Teresa estava na mesma cela da prioresa, em alcova separada, com cortinas de cassa.
Quando a prelada lhe disse que podia deitar-se, querendo, perguntou-lhe a menina se poderia escrever a seu pai. A freira respondeu que no dia seguinte o faria, posto que o senhor Albuquerque ordenasse que sua filha não escrevesse; assim mesmo, ajuntou ela que lho não proibiria, se tivesse tinteiro e papel na cela.
Teresa deitou-se, e a prelada ajoelhou diante dum oratório, rezando a coroa a meia-voz. Se o murmúrio da oração enfadasse a hóspede, não teria ela muita razão de queixa, porque a devota monja, ao segundo padre-nosso, cabeceava de modo que já não atinou com a primeira ave-maria. Levantou-se cambaleando uma mesura às imagens do santuário, foi deitar-se, e pegou a ressonar.
Teresa afastou subtilmente as cortinas do quarto, e tirou de entre o seu fato o tinteiro de tarraxa e o papel.
A lâmpada do oratório lançava um frouxo raio sobre a cadeira, em que Teresa pusera os seus vestidos. Desceu da cama, ajoelhou ao pé da cadeira, e escreveu a Simão, relatando-lhe miudamente os sucessos daquele dia. A carta rematava assim:
«Não receies nada por mim, Simão. Todos estes trabalhos me parecem leves, se os comparo ao que tens padecido por amor de mim. A desgraça não abala a minha firmeza, nem deve intimidar os teus projectos. São alguns dias de tempestade, e mais nada. Qualquer nova resolução que meu pai tome dir-ta-ei logo, podendo, ou quando puder.
A falta das minhas notícias deves atribuí-la sempre ao impossível. Ama-me assim desgraçada, porque me parece que os desgraçados são os que mais precisam de amor e de conforto. Vou ver se posso esquecer-me, dormindo. Como isto é triste, meu querido amigo!… Adeus.»