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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 58
Depois, cada vez que ia à feira, dava uma grande volta para ver se acertava de encontrar a senhora D. Ritinha à janela; e muitas vezes vi o senhor Simão. E talvez não saiba que eu estava a beber na fonte, quando vossa senhoria, há dois para três anos, deu muita pancada nos criados, que era mesmo um rebuliço que parecia o fim do mundo. Eu vim contar ao pai, e ele até caiu ao chão a dar risadas como um doido… Depois nunca mais o vi senão quando vossa senhoria entrou com o tio de Coimbra; mas já sabia que vinha para esta desgraça, porque tinha tido um sonho, em que via muito sangue, e eu estava a chorar, porque via uma pessoa muito minha amiga a cair numa cova muito funda…

– Isso são sonhos, Mariana!…

– São sonhos, são; mas eu nunca sonhei nada que não acontecesse. Quando meu pai matou o almocreve, tinha eu sonhado que o via a dar um tiro noutro homem; antes de minha mãe morrer, acordei eu a chorar por ela, e mais ainda viveu dois meses… A gente da cidade ri-se dos sonhos, mas Deus sabe o que isto é… Aí vem meu pai… Senhor dos Passos! Não vá ser uma má nova!…

João da Cruz entrou com uma carta que recebeu da pobre do costume. Enquanto Simão leu a carta escrita do convento, Mariana fitou os seus grandes olhos azuis no rosto do académico, e, a cada contracção do rosto dele, angustiava-se-lhe a ela o coração. Não teve mão da sua ânsia, e perguntou:

– É notícia má?

– Tu és muito atrevida, rapariga! – disse João da Cruz.

– Não é, não – atalhou o estudante. – Não é má a notícia, Mariana. Senhor João, deixe-me ter na sua filha uma amiga, que os desgraçados é que sabem avaliar os amigos.

– Isso é verdade; mas eu não me atrevia a perguntar o que a carta diz.

– Nem eu perguntei, meu pai; foi porque me pareceu que o Sr. Simão estava aflito quando lia.

– E não se enganou – tornou o doente, voltando-se para o ferrador. – O pai arrastou Teresa ao convento.

– Sempre é patife duma vez! – disse o ferrador, fazendo com os braços instintivamente um movimento de quem aperta entre as mãos um pescoço.

Neste lance, um observador perspicaz veria luzir nos olhos de Mariana um clarão de inocente alegria.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 58

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139