Mal entrou na grade, disse à sua amiga:
– Olha lá, Joaquina, quem é uma menina muito branca, alva como leite, que estava ali agora numa janela?
– Seria alguma noviça, que há duas cá muito lindas.
– Mas ela não tinha vestimenta nenhuma de freira.
– Ah! já sei; é a D. Teresinha Albuquerque.
– Então não me enganei – disse Mariana, pensativa.
– Pois tu conhece-la?
– Não; mas por amor dela é que eu cá vim falar contigo.
– Então que é?! Que tens tu com a fidalga?
– Eu, cá por mim, nada; mas conheço uma pessoa que lhe quer muito.
– O filho do corregedor?
– Esse mesmo.
– Mas esse está em Coimbra.
– Não sei se está, nem se não. Fazes-me tu um favor?
– Se eu puder…
– Podes… Eu queria falar com ela.
– Ó dianho! Isso não sei se poderá ser, porque a trazem as freiras debaixo de olho, e ela vai-se embora amanhã.
– Para onde vai?
– Vai para outro convento, não sei se de Lisboa se do Porto. Os baús já estão preparados, e ela está morta por sair. E tu que lhe queres?
– Não to posso dizer porque não sei… Queria dar-lhe um papel… Faz com que ela cá venha, que eu dou-te chita para um vestido.
– Como tu estás rica, Mariana!… – atalhou, rindo, Joaquina – Eu não quero a tua chita, rapariga. Se eu puder dizer-lhe que venha, sem que alguém me ouça, digo-lho. E agora é boa maré, porque tocou ao coro… Deixa-me lá ir…
Joaquina saiu-se bem da difícil comissão. Teresa estava sozinha, absorvida a cismar com os olhos fitos no ponto onde vira Mariana.
– A menina faz favor de vir comigo depressinha? – disse-lhe a criada.
Seguiu-a Teresa, e entrou na grade, que Joaquina fechou, dizendo:
– O mais breve que possa bata por dentro para eu lhe abrir a porta. Se perguntarem por vossa excelência, digo-lhe que a menina está no mirante.
A voz de Mariana tremia, quando D. Teresa lhe perguntou quem era.
– Sou a portadora desta carta para Vossa Excelência.
– É de Simão! – exclamou Teresa.
– Sim, minha senhora.