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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 76
Facilmente o acreditou João da Cruz; mas Mariana, submissa sempre ao que o seu coração lhe bacorejava, duvidou da mudança, e disse ao pai que vigiasse o fidalgo.

Às onze horas da noite, ergueu-se o académico e escutou o movimento interior da casa: não ouviu o mais ligeiro ruído, a não ser o rangido da égua na manjedoura. Escorvou de pólvora nova as duas pistolas. Escreveu um bilhete sobrescrito a João da Cruz, e ajuntou-o à carta que escrevera a Teresa. Abriu as portadas da janela do seu quarto, e passou dali para a varanda de pau, da qual o salto à estrada era sem risco. Saltou, e tinha dado alguns passos, quando a fresta lateral à porta da varanda se abriu, e a voz de Mariana lhe disse:

– Então adeus, senhor Simão. Eu fico pedindo a Nossa Senhora que vá na sua companhia.

O académico parou, e ouviu a voz íntima que lhe dizia: – «O teu anjo da guarda fala pela boca daquela mulher, que não tem mais inteligência que a do coração, alumiada pelo seu amor».

– Dê um abraço em seu pai, Mariana – disse-lhe Simão – e adeus… até logo, ou…

– Até ao Juízo Final… – atalhou ela.

– O destino há-de cumprir-se… Seja o que o Céu quiser.

Tinha Simão desaparecido nas trevas, quando Mariana acendeu a lâmpada do santuário, e ajoelhou orando com o fervor das lágrimas.

Era uma hora, e estava Simão defronte do convento, contemplando uma a uma as janelas. Em nenhuma vira o clarão de luz; luz, só a do lampadário do Sacramento se coava baça e pálida na vidraça duma fresta do templo. Sentou-se nas escaleiras da igreja, e ouviu, ali, imóvel, as quatro horas. Das mil visões que lhe relancearam no atribulado espírito, a que mais a miúdo se repetia era a de Mariana suplicante, com as mãos postas; mas, ao mesmo tempo, cria ele ouvir os gemidos de Teresa, torturada pela saudade, pedindo ao Céu que a salvasse das mãos de seus algozes. O vulto de Tadeu de Albuquerque, arrastando a filha a um convento, não lhe afogueava a sede da vingança; mas cada vez que lhe acudia à mente a imagem odiosa de Baltasar Coutinho, instintivamente as mãos do académico se asseguravam da posse das pistolas.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 76

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139