– Afinal foi ele que se deu à prisão.
– Está preso?! E, sufocada pelos soluços, com o rosto no lenço, não ouvia as palavras confortadoras de Constança.
Serenado algum tempo o violento acesso de gemidos e choro, Teresa sugeriu à criada o louco plano de a deixar fugir da primeira estalagem onde pousassem, para ela ir a Viseu dar o último adeus a Simão.
A criada a custo a despersuadiu do intento, pintando-lhe os novos perigos que ia acumular à desgraça do seu amante, e animando-a com a esperança de livrar-se Simão do crime, com a influência do pai, apesar da perseguição do fidalgo.
Calaram lentamente estas razões no espírito de Teresa.
Chorosa, ansiada e a revezes desfalecida, foi Teresa vencendo a distância que a separava de Monchique, onde chegou ao quinto dia de jornada.
A prelada já estava sabedora dos sucessos por emissários que se adiantaram ao moroso caminhar da liteira.
Foi Teresa recebida com brandura por sua tia, posto que as recomendações de Tadeu de Albuquerque eram clausura rigorosa e absoluta privação de meios de escrever a quem quer que fosse.
Ouviu a prelada da boca de sua sobrinha a fiel história dos acontecimentos, e viu uma a uma as cartas de Simão Botelho. Choraram abraçadas; mas a prelada, enxugadas as lágrimas de mulher ao fogo da austeridade religiosa, falou e aconselhou como freira, e freira que ciliciava o corpo com as rosetas e o coração com as privações tormentosas de quarenta anos.
Teresa carecia de forças para a rebelião. Deixou a sua tia a santa vaidade de exorcismar o demónio das paixões, e deu um sorriso ao anjo da morte, que, de permeio ao seu amor e à esperança, lhe interpunha a asa negra, que tão de luz refulgente rebrilha às vezes em corações infelizes.
Quis Teresa escrever.
– A quem, minha filha? – perguntou a prelada. Teresa não respondeu.
– Escrever-lhe para quê? – tornou a religiosa. – Cuidas tu, menina, que as tuas cartas lhe chegam à mão? Que vais tu fazer senão redobrar a ira de teu pai contra ti e contra o infeliz preso?