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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 96
Se o amas, como creio, apesar de tudo, cuida em salvá-lo. Se não ouves a minha razão, finge-te esquecida. Se podes violentar a tua dor, dissimula, faz muito por que a teu pai chegue a notícia de que lhe serás dócil em tudo, se ele tiver piedade do teu pobre amigo.

Não recalcitrou Teresa. Deu outro sorriso ao anjo da morte, e pediu-lhe que a envolvesse a ela, e ao seu amor, e à sua esperança, de todo, na negrura de suas asas.

De mês a mês recebia a abadessa de Monchique uma carta de seu primo. Eram estas cartas um respiradouro de vingança. Em todas dizia o velho que o assassino iria ao patíbulo irremediavelmente. A sobrinha não via as cartas; mas reparava nas lágrimas da compassiva freira.

A débil compleição de Teresa deperecia aceleradamente. A ciência condenou-a à morte breve. Disto foi informado Tadeu de Albuquerque, e respondeu: «Que a não desejava morta; mas, se Deus a levasse, morreria mais tranquilo, e com a sua honra sem mancha.» Era assim imaculada a honra do fidalgo de Viseu!… A honra, que dizem proceder em linha recta da virtude de Sócrates, da virtude de Jesus Cristo, e da virtude de milhões de mártires, que se deram às garras das feras, quando predicavam a caridade e o perdão aos homens!

Quantas carícias inventou a simpatia e a piedade, todas, por ministério das religiosas exemplares de Monchique, aporfiaram em refrigerar o ardor que consumia rapidamente a reclusa. Inútil tudo. Teresa reconhecia com lágrimas a compaixão, e, ao mesmo tempo, alegrava-se tirando das carícias a certeza de que os médicos a julgavam incurável.

Alguma freira inadvertida lhe disse um dia que uma sua amiga do convento dos Remédios de Lamego lhe dissera que Simão tinha sido condenado à morte.

Teresa estremeceu e murmurou, sem forças já para a exclamação:

– E eu vivo ainda! Depois orou, e chorou; mas os costumes da sua vida em paroxismos continuaram inalteráveis.

Perguntou à senhora, que lhe dera a notícia, se a sua amiga do convento dos Remédios lhe faria a esmola de fazer chegar às mãos de Simão uma carta. Prontificou-se a freira, depois que ouviu o parecer da prelada. Entendeu esta religiosa que o derradeiro colóquio entre dois moribundos não podia danificá-los na vida temporal, nem na vida eterna.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 96

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139