Ficavam então soturnos, trocando, a espaços, frases moles; um batizado que havia; o que dissera o cônego Campos; um frontal do altar que era necessário limpar. Aquela conversa enfastiava Amaro: sentia-se muito pouco padre, muito distante da panelinha eclesiástica: não o interessavam as intriguinhas do cabido, as parcialidades tão comentadas do senhor chantre, os roubos da Misericórdia, as turras da câmara eclesiástica com o governo civil; e achava-se sempre alheio, mal informado, nas palestras eclesiásticas em que tão femininamente se deleitam os padres, e que têm a puerilidade duma caturrice e a tortuosidade duma conspiração.
- O vento está sul? perguntava ele enfim, bocejando.
- Sempre! respondia o coadjutor.
Acendia-se a luz; o coadjutor erguia-se, sacudia o guarda-chuva, e saía com um olhar de revés à Vicência.
Era aquela a pior hora, a da noite, quando ficava só. Procurava ler, mas os livros enfastiavam-no; desabituado da leitura não compreendia "o sentido". Ia olhar à vidraça: a noite estava tenebrosa, o lajedo reluzia vagamente. Quando acabaria aquela vida? Acendia o cigarro, e do lavatório para a janela recomeçava os seus passeios, com as mãos atrás das costas. Deitava-se sem rezar às vezes; e não tinha escrúpulos: julgava que ter renunciado a Amélia era já uma penitência, não necessitava cansar-se a ler orações no livro; celebrara o "seu sacrifício" - sentia-se vagamente quite com o Céu!
E continuava a viver só: o cônego nunca vinha à Rua das Sousas, "porque, dizia, era casa que só o entrar nela até se lhe agoniava o estômago". E Amaro, cada dia mais amuado, não voltara a casa da S. Joaneira. Escandalizara-se muito que ela não lhe tivesse mandado pedir para ir às partidas da sexta-feira; atribuíra "a desfeita" à hostilidade de Amélia; e, mesmo para a não ver, trocara com o padre Silveira a missa do meio-dia onde ela costumava ir, e dizia a das nove horas, furioso com aquele novo sacrifício!
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