O Crime do Padre Amaro - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 209 / 478

- Falta de temor a Deus, falta de religião, observou D. Josefa.

- Qual falta de religião! replicou o cônego exasperado. Falta de cabos de polícia, é o que é! - E voltando-se para Amaro: - Hoje é o enterro da velha, hem? Inda mais essa! Vá, mana, mande-me lá dentro uma volta lavada e os sapatos de fivela!

O padre Amaro então, retomado pela sua preocupação:

- Estávamos cá a falar do caso do João Eduardo: o Comunicado!

- Isso é outra maroteira que tal, fez logo o cônego. Vejam essa, também! Que quadrilha vai pelo mundo, que quadrilha! - e ficou de braços cruzados, com os olhos arregalados, como contemplando uma legião de monstros, soltos pelo universo, e arremessando-se com impudência contra as reputações, os princípios da Igreja, a honra das famílias e o cebolinho do clero.

Ao sair, o padre Amaro renovou ainda as suas recomendações a D. Josefa, que o acompanhara ao patamar.

- Então hoje, noite de pêsames, não se faz nada. Amanhã fala à rapariga, e lá para o fim da semana leva-ma à Sé. Bem. E convença a rapariga, D. Josefa, trate de salvar aquela alma! Olhe que Deus tem os olhos em si. Fale-lhe teso, fale-lhe teso!... E o nosso cônego que se entenda com a S. Joaneira.

- Pode ir descansado, senhor pároco. Sou madrinha, e, quer ela queira quer não, hei-de pô-la no caminho da salvação...

- Amém, disse o padre Amaro.

Nessa noite, com efeito, D.Josefa "não fez nada". Eram os pêsames na Rua da Misericórdia. Estavam embaixo, na saleta, alumiada lugubremente por uma só vela com um abajur verde-escuro.





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