O Crime do Padre Amaro - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 211 / 478

Daí a dois dias, às oito horas da manhã, a Sra. D. Josefa Dias e Amélia entraram na Sé - depois de terem falado no terraço à Amparo, mulher do boticário, que tinha uma criança com sarampo, e, apesar de não ser coisa de cuidado, "viera à cautela fazer uma promessa".

O dia estava enevoado, a igreja tinha luz parda. Amélia, pálida sob a sua mantilha de renda, parou defronte do altar de Nossa Senhora das Dores, deixou-se cair de joelhos, e ficou imóvel, com o rosto sobre o livro de missa. A Sra. D. Josefa Dias, com passos fofos, depois de se ter prostrado diante da capela do Santíssimo e do altar-mor, foi empurrar devagarinho a porta da sacristia: o padre Amaro lá passeava, com os ombros vergados, as mãos atrás das costas:

- Então? perguntou logo, erguendo para D. Josefa a sua face muito barbeada, onde os olhos reluziam inquietos.

- Está ali, disse a velha baixinho, numa expressão de triunfo. Fui eu mesma buscá-la! Ai, falei-lhe teso, senhor pároco, não lhas poupei! Agora é consigo!

- Obrigado, obrigado, D. Josefa! disse o padre, apertando-lhe as mãos ambas com força. Deus há-de-lho levar em conta.

Olhou em redor, nervoso; apalpou-se para sentir o lenço, a carteira dos papéis; e, cerrando devagarinho a porta da sacristia, desceu à igreja. Amélia ainda estava ajoelhada, fazendo um vulto negro imóvel contra o pilar branco.

- Pst, fez-lhe D. Josefa.

Ela ergueu-se devagar, muito escarlate, compondo tremulamente com as mãos as pregas da mantilha em roda do pescoço.

- Aqui lha deixo, senhor pároco, disse a velha. Vou à Amparo da botica, e venho depois por ela. Ora vai filha, vai, Deus te alumie essa alma!

E saiu com mesuras a todos os altares.





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