Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: Capítulo 14

Página 246

Isto fez lembrar também a Gustavo a cólera provável do doutor Godinho, dono da tipografia. O doutor Godinho, que depois da reconciliação com a gente da Rua da Misericórdia, retomara publicamente a sua considerável posição de pilar da Igreja e esteio da Fé...

- É o diabo, pode-nos sair caro, disse ele.

- É impossível! disse o escrevente.

Então praguejaram de raiva. Perder uma ocasião daquelas para pôr a calva à mostra ao clero!

O plano do folheto, como uma coluna tombada que parece maior, afigurava-se-lhes, agora que estava derrubado, duma altura, duma importância colossal. Não era já a demolição local dum pároco celerado, era a ruína, ao longe e ao largo, de todo o clero, dos jesuítas, do poder temporal, de outras coisas funestas... - Maldição! se não fosse o Nunes, se não fosse o Godinho, se não fossem os nove mil-réis do papel!

Aquele perpétuo obstáculo do pobre, falta de dinheiro e dependência do patrão, que até para um folheto era estorvo, revoltou-os contra a sociedade.

- Positivamente é necessário uma revolução, afirmou o tipógrafo. É necessário arrasar tudo, tudo! - E o seu largo gesto sobre a mesa indicava, num formidável nivelamento social, uma demolição de igrejas, palácios, bancos, quartéis, e prédios de Godinhos ! - Outra do tinto, tio Osório!...

Mas o tio Osório não aparecia. Gustavo martelou a mesa a toda a força com o cabo da faca. E enfim, furioso, saiu fora ao contador "para arrebentar a pança àquele vendido que fazia assim esperar um cidadão".

Encontrou-o desbarretado, radiante, conversando com o barão de Via-Clara, que, em vésperas de eleições, vinha pelas casas de pasto apertar a mão aos compadres. E ali na taberna, parecia magnífico o barão, com a sua luneta de ouro, os botins de verniz sobre o solo térreo, tossicando ao cheiro acre do azeite fervido e das emanações das borras de vinho.

<< Página Anterior

pág. 246 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Crime do Padre Amaro
Páginas: 478
Página atual: 246

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 10
Capítulo 3 19
Capítulo 4 45
Capítulo 5 59
Capítulo 6 77
Capítulo 7 93
Capítulo 8 111
Capítulo 9 123
Capítulo 10 142
Capítulo 11 182
Capítulo 12 204
Capítulo 13 217
Capítulo 14 236
Capítulo 15 272
Capítulo 16 290
Capítulo 17 313
Capítulo 18 319
Capítulo 19 344
Capítulo 20 361
Capítulo 21 376
Capítulo 22 395
Capítulo 23 425
Capítulo 24 455
Capítulo 25 469