Gustavo, avistando-o, recolheu discretamente ao cubículo.
- Está com o barão, disse numa surdina respeitosa.
Mas vendo João Eduardo aniquilado, com a cabeça entre os punhos, o tipógrafo exortou-o a não esmorecer. Que diabo! No fim, livrava-se de casar com uma beata...
- Não me pode vingar daquele maroto! interrompeu João Eduardo com um repelão ao prato.
- Não te aflijas, prometeu o tipógrafo com solenidade, que a vingança não vem longe!
Fez-lhe então, baixo, a confidência "das coisas que se preparavam em Lisboa". Tinham-lhe afiançado que havia um clube republicano a que até pertenciam figurões - e que era para ele uma garantia superior de triunfo. Além disso, a rapaziada do trabalho mexia-se... Ele mesmo - e murmurava quase contra a face de João Eduardo, estirado sobre a mesa - fora falado para pertencer a uma seção da Internacional, que devia organizar um espanhol de Madri; nunca vira o espanhol, que se disfarçava por causa da policia; e a coisa falhara porque o Comitê tinha falta de fundos... Mas era certo haver um homem, que possuía um talho, que prometera cem mil-réis... O exército, além disso, estava na coisa: tinha visto numa reunião um sujeito barrigudo que lhe tinham dito que era major, e que tinha cara de major... - De modo que, com todos estes elementos, a opinião dele Gustavo, era que dentro de meses, governo, rei, fidalgos, capitalistas, bispos, todos esses monstros iam pelos ares!
- E então somos nós os reizinhos, menino! Godinho, Nunes toda a cambada ferramo-la na enxovia de S. Francisco. Eu a quem me atiro é ao Godinho... Padres, derreamo-los à pancada! E o povo respira, enfim!
- Mas daqui até lá! suspirou João Eduardo, que pensava com amargura que, quando a revolução viesse já seria tarde para recuperar a Ameliazinha...