O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 248 / 478

O tio Osório então apareceu com a garrafa.

- Ora até que enfim, seu fidalgo! disse o tipógrafo a trasbordar de sarcasmo.

- Não se pertence à classe, mas é-se tratado por ela com consideração, replicou logo o tio Osório, que a satisfação fazia parecer mais pançudo.

- Por causa de meia dúzia de votos!

- Dezoito na freguesia, e esperanças de dezanove. E que se há-de servir mais aos cavalheiros? Nada mais?... Pois é pena. Então é beber-lhe, é beber-lhe!

E correu a cortina, deixando os dois amigos em frente da garrafa cheia, aspirarem a uma Revolução que lhes permitisse - a um reaver a menina Amélia, a outro espancar o patrão Godinho.

Eram quase cinco horas quando saíram enfim do cubículo. O tio Osório, que se interessava por eles por serem rapazes de instrução, notou logo, examinando-os do canto do balcão onde saboreava o seu Popular, que vinham tocaditos. João Eduardo, sobretudo, de chapéu carregado e beiço trombudo: "pessoa de mau vinho", pensou o tio Osório, que o conhecia pouco. Mas o Sr. Gustavo, como sempre, depois dos três litros, resplandecia de júbilo. Grande rapaz! Era ele que pagava a conta; e gingando para o balcão, batendo de alto com as suas duas placas:

- Encafua mais essas na burra, Osório pipa!

- O que é pena é que sejam só duas, Sr. Gustavo.

- Ah bandido! imaginas que o suor do povo, o dinheiro do trabalho é para encher a pança dos Filistinos? Mas não as perdes! Que no dia do ajuste de contas quem há-de ter a honra de te furar esse bandulho há-de ser cá o Bibi... E o Bibi sou eu... Eu é que sou o Bibi! Não é verdade, João, quem é o Bibi?

João Eduardo não escutava; muito carrancudo, olhava com desconfiança um borracho, que na mesa do fundo, diante do seu litro vazio, com o queixo na palma da mão e o cachimbo nos dentes, embasbacara, maravilhado, para os dois amigos.





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