O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 252 / 478

Ninguém apareceu: então, indignado, partiu para os lados da Sé.

Ao desembocar no largo, diante da fachada da igreja, parou, procurando em redor com o sobrolho carregado: mas o largo parecia deserto; à porta da farmácia do Carlos um rapazito, sentado no degrau, guardava pela arreata um burro carregado de erva; aqui e além, galinhas iam picando o chão vorazmente; o portão da igreja estava fechando; e apenas se ouvia o ruído de marteladas numa casa ao pé em que havia obras.

E João Eduardo ia seguir para os lados da alameda - quando apareceram no terraço da igreja, da banda da sacristia, o padre Silvério e o padre Amaro, conversando, devagar.

Batia então um quarto na torre, e o padre Silvério parou a acertar o seu cebolão. Depois os dois padres observaram maliciosamente a janela da administração de vidraças abertas, onde se via, no escuro, o vulto do senhor administrador de binóculo cravado para a casa do Teles alfaiate. E desceram enfim a escadaria da Sé, rindo de ombro a ombro, divertidos com aquela paixão que escandalizava Leiria.

Foi então que o pároco viu João Eduardo que estacara no meio do largo. Parou para voltar à Sé decerto, evitar o encontro; mas viu o portão fechado, e ia seguir de olhos baixos, ao lado do bom Silvério que tirava tranquilamente a sua caixa de rapé, - quando João Eduardo, arremessando-se, sem uma palavra, atirou a toda a força um murro no ombro de Amaro.

O pároco, aturdido, ergueu frouxamente o guarda-chuva.

- Acudam! berrou logo o padre Silvério, recuando de braços no ar. Acudam!

Da porta da administração um homem correu, agarrou furiosamente o escrevente pela gola:

- Está preso! rugia. Está preso!

- Acudam, acudam! berrava Silvério a distância.

Janelas no largo abriam-se à pressa.





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