O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 283 / 478

Amaro pareceu inquieto.

- Que erro, padre-mestre?

- Depois de se revestir, continuou o cônego pausadamente, já com os diáconos ao lado, quando fez a cortesia à imagem da sacristia, em lugar de fazer a cortesia profunda, fez só a meia cortesia.

- Alto lá, padre-mestre! exclamou o padre Amaro. É o texto da rubrica. Facta reverentia cruci, feita a reverência à cruz; isto é, a reverência simples, abaixar ligeiramente a cabeça...

E, para exemplificar, fez uma cortesia a D. Josefa que lhe sorriu toda, torcendo-se.

- Nego! exclamou formidavelmente o cônego que em sua casa, à sua mesa, punha de alto as suas opiniões. E nego com os meus autores. Eles aí vão! - e deixou-lhe cair em cima, como penedos de autoridade, os nomes venerados de Laboranti, Baldeschi, Merati, Turrino e Pavônio.

Amaro afastara a cadeira, pusera-se em atitude de controvérsia, contente de poder, diante de Amélia, "enterrar" o cônego, mestre de teologia moral e um colosso de liturgia prática.

- Sustento, exclamou, sustento com Castaldus...

- Alto, ladrão, bramiu o cônego. Castaldus é meu!

- Castaldus é meu, padre-mestre!

E encarniçaram-se, puxando cada um para si o venerável Castaldus e a autoridade da sua facúndia. D. Josefa pulava de gozo na cadeira, murmurando para Amélia com a cara franzida de riso:

- Ai, que gostinho vê-los! Ai, que santos!

Amaro continuava, com gesto alto:

- E além disso, tenho por mim o bom senso, padre-mestre. Primo, a rubrica, como expus. Segundo, o sacerdote, tendo na sacristia o barrete na cabeça, não deve fazer cortesia inteira, porque lhe pode cair o barrete e temos desacato maior. Tertio, seguir-se-ia um absurdo, porque então a cortesia antes da missa à cruz da sacristia seria maior que a que se faz depois da missa à cruz do altar!





Os capítulos deste livro