O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 287 / 478

Amélia correu à janela, inquieta. O lajedo defronte, debaixo do candeeiro, reluzia muito molhado. O céu estava tenebroso.

- Jesus, vamos ter uma noite de água!

D. Josefa estava aflita com o contratempo; mas a Amélia bem via, ela agora não podia despegar de casa; a Gertrudes fora ao doutor; naturalmente não o encontrara; andava a procurá-lo de casa em casa, quem sabe quando viria...

O pároco então lembrou que a Dionísia (que viera com ele e esperava na cozinha) podia ir acompanhar a Sra. D. Amélia. Eram dois passos, não havia ninguém pelas ruas. Ele mesmo iria com elas até à esquina da Praça... Mas deviam apressar-se que ia cair água!

D. Josefa foi logo buscar um guarda-chuva para Amélia. Recomendou-lhe muito que contasse à mamã o que tinha sucedido. Mas que não se afligisse ela, que o mano estava melhor...

- E olha! gritou-lhe ainda de cima da escada. Diz-lhe que se fez tudo o que se pôde, mas que a dor não deu tempo para nada!

- Sim, lá direi. Boa noite.

Ao abrirem a porta a chuva caía grossa. Amélia então quis esperar. Mas o pároco, apressado, puxou-a pelo braço:

- Não vale nada, não vale nada!

Desceram a rua deserta, aconchegados debaixo do guarda-chuva, com a Dionísia ao lado, muito calada, de xale pela cabeça. Todas as janelas estavam apagadas; no silêncio as goteiras cantavam de enxurrão.

- Jesus, que noite! disse Amélia. Vai-se-me a perder o vestido.

Estavam então na Rua das Sousas.

- É que agora cai a cântaros, disse Amaro. Realmente parece-me que o melhor é entrar no pátio de minha casa e esperar um bocado...

- Não, não! acudiu Amélia.

- Tolices! exclamou ele impaciente. Vai-se-lhe estragar o vestido... É um instante, é um aguaceiro. Para aquele lado, vê, está a aliviar. Vai passar... É uma tolice... A mamã, se a visse aparecer debaixo duma carga de água, zangava-se, e com razão!





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