O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 288 / 478

- Não, não!

Mas Amaro parou, abriu rapidamente a porta, empurrando Amélia de levei

- É um instante, vai passar, entre...

E ali ficaram, calados, no pátio escuro, olhando as cordas de água que reluziam à luz do candeeiro defronte. Amélia estava toda atarantada. A negrura do pátio e o silêncio assustavam-na; mas parecia-lhe delicioso estar assim naquela escuridão, ao pé dele, ignorada de todos... Insensivelmente atraída, roçava-se-lhe pelo ombro; e recuava logo, inquieta de ouvir a sua respiração tão agitada, de o sentir tão junto das saias. Percebia por trás, sem a ver, a escada que levava ao quarto dele; e tinha um desejo imenso de lhe ir ver, acima, os seus móveis, os seus arranjos... A presença da Dionísia, encolhida contra a porta e muito calada, embaraçava-a; todavia a cada momento voltava os olhos para ela, receando que desaparecesse, se sumisse na negrura do pátio ou da noite...

Amaro então começou a bater com os pés no chão, a esfregar as mãos, arrepiado.

- Estamos aqui a apanhar alguma, dizia. As lajes estão regeladas. Realmente era melhor esperar em cima na sala de jantar...

- Não, não! disse ela.

- Pieguices! Até a mamã se havia de zangar... Vá, Dionísia, acenda luz em cima.

A matrona imediatamente galgou os degraus.

Ele então, muito baixo, tomando o braço de Amélia:

- Por que não? Que pensas tu? É uma pieguice. É enquanto não passa o aguaceiro. Dize...

Ela não respondia, respirando muito forte. Amaro pousou-lhe a mão sobre o ombro, sobre o peito, apertando-lho, acariciando a seda. Toda ela estremeceu. E foi-o enfim seguindo pela escada, como tonta, com as orelhas a arder, tropeçando a cada degrau na roda do vestido.

- Entra para aí, é o quarto, disse-lhe ao ouvido.

Correu à cozinha. Dionísia acendia a vela.





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